novembro 28, 2008

Série: Algumas manhãs.

Preciosa Demais (I)

Aparência de manhã branca fantástica. Nela não havia pássaros, mas isso pouco importa, não me agrada seus cantares. As árvores eram quem faziam seus papéis. O vento rugia sobre elas e assim o farfalhar das folhas alegrava ainda mais meu coração.
Os vizinhos já se encontravam afora de suas casas, entre pastas e bolsas. As faces estavam lavadas pelo sono e por vezes bocejavam. Os carros saíam das garagens ritmando a monotonia da manhã nada surpreendente e, em fila, migravam para a avenida principal.
O mundo podia não saber, mas aquele dia era muito maior para mim. Era o dia de exalar amor, pois eu estava cheia, cheia de amor e de vontade de gritar. Uma combinação na qual coloquei toda minha jovialidade e romantismo.
Eu me levantei da cama e havia música em mim. Não havia pássaros, mas, sim, eles cantavam. Não havia dançarinos, mas, sim, eles me envolviam. Era tudo uma grande mentira, mas eu estava adorando vivê-la.
Na rua, meus olhos rompiam com o clima britânico. Rompiam com os olhos secos e frios dos trabalhadores. Impediam-me de ser o que ontem eu fui. Na rua, os homens me olhavam estarrecidos, cochichavam em seus ouvidos e voltavam a falar da louca de amores.
O vento das seis da manhã sopravam minha saia rosada, e, enquanto eu a segurava, o sorriso luzia sem muito a que se prender. Eu odiava levar coisas comigo, mas aquele dia era outra história, era o dia em que me encontrava cheia de amores.
No prédio do apartamento dele fora outra situação. Já sou quase que conhecida por todos e foi fácil me infiltrar.
― Senhor Alencar, é hoje.
― Ora, vamos! Pode subir, minha filha.
― Lembre-se de me dar um sinal quando ele estiver prestes a chegar.
― Sem sombra de dúvidas ― e ele estava sorridente como aquela manhã.
As músicas de elevadores nunca foram tão agradáveis. E estes nunca demoraram tanto em minha vida. A contagem do térreo ao oitavo andar parecia infinita.
O corredor luzia à luz do sol, claro e entorpecente, rompendo pelas janelinhas de vidros-fumê.
Eu abri a porta e deixei as coisas sobre a mesinha tênue de ferro castigado. O mundo gritava, ou quem fazia era meu coração, saltando a anseio de fugir de meu peito.
Eu aprontei, confiei, era uma mesa linda. Era um dia lindo.
― Pronto. Agora só preciso esperar.
Passaram-se uma hora, mas o sentimento era grande demais, ainda que ele deveria ter chegado há quinze minutos atrás, imprevistos acontecem.
― Perdeu o ônibus. Ele sempre faz isso. Rs.
Mais um hora e esta ainda não havia sido capaz de abater-me.
Trimmmm! Trrrimmm! Trimmmm! O sinal!
― Claro, o sinal! Ele chegou ― e o interfone foi tirado do gancho, mas não houve reciprocidade de chamada. Era alegria demais.
Deixei o interfone sobre a mesa. Ajeitei a saia, alinhei os cabelos volumosos. Estava radiante, radiante demais para ele. Radiante demais para cair. Radiante demais para ser humana.

2 comentários:

Paulo Fontes disse...

Voce que escreveu?
http://computakipiada.blogspot.com/

Unknown disse...

sem fim?? Oo... o q aconteceu depois? pq tanta empolgação????

flws
abçs