novembro 15, 2008

Os Primordianos (Parte II)

— Como louca? Quero dizer... louca como? — disse o pai, morto de espanto.
— Eu não sei! Estávamos todos lá... na sala... ela estava bem. Estava tudo muito bem — e caiu no choro aos braços da mulher que ainda tentava lhe ajudar.
A mãe abraçou a velha e pousou sua cabeça sobre a dela. Demorou cerca de meio minuto até notar a ausência do filho. E, desesperada, ergueu a cabeça em busca dele.
— Pietro! Pietro, onde está você? — e sua voz decolou em gravidade. — Ah, meu Deus, pai! Ele está correndo para lá — disse, apontando para o vulto do garoto que ganhava velocidade a cada segundo.
O pai disparou atrás do filho, mas, obviamente, este não corria nem metade do que o jovem era capaz de correr.
O menino sumiu da vista do pai ao virar a outra esquina da casa. Quando o homem dos olhos cintilantes conseguiu fitar a entrada dela, somente pôde ver o filho percorrer o caminho que dava à grandiosa floresta, ainda em alta velocidade. Correu os olhos mais adiante e pôde notar a qual objetivo o filho seguia com tal intensidade. Lá estava ela. Karoline corria assustadoramente contorcida um pouco a frente do garoto de cabelos loiros.
O homem já sabia. Não havia mais o que fazer, o filho migrava para a entrada da floresta, e logo estaria a vagar por suas profundezas. Ele olhou para trás, como quem pensa de que modo dar à mãe a notícia de um filho em apuros. Mas seus pensamentos infortúnios foram todos liquidados ao soar de um berro vindo da grande casa.
Seus olhos só se desvencilharam do filho pelo motivo de este não poder ser mais visto; e por tal motivo lá foi o homem averiguar o porquê do grito proveniente, provavelmente, de uma moça. Ele se aproximou com cautela da porta, e como já estava aberta não foi necessário muito para ver que o salão de estar estava vazio.
Entrou e seguiu pelo corredor à sua frente. A casa era quase que totalmente improvisada com madeira, e aparentava ser bem velha. A lua ainda estava viva lá fora, dando ao interior da sala um tom azulado e obscuro.
O homem avançou até se deparar com a escada, também de madeira, que o levaria ao segundo andar. Ele pousou o pé sobre o primeiro degrau, quando um gemidinho vindo da parte não iluminada da sala ecoou na vastidão deste.
Os olhos azuis dele se agigantaram e sua boca vacilou.
— Quem está aí? — disse, quase que sussurrando.
A resposta demorou, mas não tardou.
— Ela está lá em cima — a voz choramingou. — Eu tentei, mas ela me disse que estava tudo bem. Fora somente um segundo. Um segundo, só um segundo, e... ah — e caiu no choro.
A decisão do homem fora quase que impensada. Por breves segundos, pensou em retroceder o caminho e acalmar a jovem que estava mergulhada na escuridão, desamparada. Mas, mesmo com tais pensamentos em mente, a pena, deixou as pernas o levarem para onde a escada daria.
Cada passo o amedrontava ainda mais. O que faria com que a garota gritasse daquele jeito? Por que ela estaria agora chorosa em meio à escuridão daquela sala?
Havia muito mais a se supor ou a se questionar, mas o fato de que a verdade estava prestes a ser revelada seguia fazendo com que seu coração dilacerasse em pânico e a gelidez do ambiente tornasse seu sangue petrificado.
Sua face já denotava tamanha a apreensão do momento, mas os pés não perdiam movimento. Acabara de chegar ao fim da escada e lá viu quatro portas, uma em cada parte do cômodo em formato de quadrado. Uma delas estava entreaberta o que logo chamou sua atenção. Terminou de abri-la e lá, estático, parou. Sua mulher, já quase que esquecida por ele, chegou às suas costas.
— Deus todo poderoso! — murmurou ela, estarrecida.




— Karoline! Karoline, espere! — e o garoto, cujos cabelos loiros dançavam baixo o luar, ainda persegui-a ofegante.
Ela não cessara, e corria a ritmo incansável. O caminho deles começava a tornar-se mais difícil, e os relevos do solo aumentavam de acordo com a distância percorrida.
O garoto pensava em desistir. Suas pernas doíam como se fosse os ossos os principais causadores da dor, mas já percorrera estrada demais para acabar com aquilo assim, estava decido a não fazê-lo; não a essa altura do campeonato.
Sua visão começava a se embaçar pelo cansaço, quando a gravidade o levou consigo. Não percebera o barranco à frente e seu corpo foi automaticamente engolido pela irregularidade do sólo.
Seu corpo rolou até perder movimento, e dar-se com a mão de Karoline à sua frente.
— Karoline! Você está bem? — e levantando de pronto, pôs-se a examinar a amiga inconsciente.
As mãos do garoto levaram o rosto da garota para a luz. Esta, cujo rosto era pálido e macio, levava na testa uma ferida que provavelmente ganhara ao desabar morro abaixo. O sangue vermelho tingia os arredores do ferimento dando um ar mortífero à garota desacordada. A lua fazia seus belos e ondulados cabelos castanhos brilharem com o passar da luz entre as frestas da folhagem das árvores, e tornava ainda mais bela a misteriosa conhecida.
— Ah, Karoline! O que foi que te aconteceu? — e deitou o rosto da garota sobre seu peito magricela.
Era madrugada, mas a noite só caiu para eles quando o sono os derrubou. A floresta nunca fora tão acolhedora como naquele dia. Em seu leito descansavam uma garota desacordada de pedra e um amigo fiel.

19 comentários:

Bruno disse...

Legal! Meio estranho e doido, mas até curti...

João Luis Garcia Martins disse...

Hugo, belo layout o do blog!

Sobre o texto, caso seja de sua autoria, parabéns, acabei lendo o "Os Promordianos" pate 1 para ver o 2, e é realmente muito bom.

Abraço

____________________________
http://grandesobrasdaengenharia.blogspot.com/

dedoverde disse...

Gostei do modo como escreve. Dá pra presenciar os fatos, os atos... Vou voltar sempre. Que continue escrevendo assim, peculiarmente, bem. A parte que eu mais gostei do blog, de fato, foi 'quem sou eu'. Até mais! ^^

dedoverde disse...

'sejam os que sentem' são letras, palavras que eu gostaria de ter juntado... U___U

Congratulations!

Chimia Man disse...

Escreve muito bem!

binhOw disse...

Texto de autoria sua??
MEUS PARABENS


http://www.sohtralhas.net63.net

Unknown disse...

frenético! uhahuahua
gostei mto!
espero pelo resto da história!
flws

Anônimo disse...

OI eu dei uma lida nesse post e gostaria de saber onde posso encontrar esse livro?

Se você tiver como me dizer, claro!

Unknown disse...

vlww pelos elogios!
quer um conselho? se vc quer escrever, faça num cenário q vc conheça, nem q seja pouco, mas q tenha um certo domínio! assim fik mais fácil escrever!

flwss
e posta logo! ;p
abçs

Airton disse...

legal cara criativo o seu blog..
da uma passada no meu

http://publicandobr.blogspot.com/

abraço

Marco Alcantara disse...

Já leu Bernard Cornwell?

Se não...mesmo assim deixo a dica. Aliás seus dialogos são bem parecidos com os dele.

Thiago Morian disse...

Você é o autor do texto?
Ser for meus parabéns...

Unknown disse...

oi; eaewdi boa?
vlw pelo comentario q vc dexo no meu blog...
vou começar a ler os seus posts tbm pra ver como tah fikno...
^^

estava pensando em parceria...
vc linka meu blog e eu linko o seu; pode ser?
me envia a resposta por comentario.

abraços.

http://a-casa-da-morte.blogspot.com/

flw's

Unknown disse...

fmz...
ñ faiz mau; qdo eu comecei esse negocio d blog tbm ñ sabia linkar...
faiz o seguinte c tem msn? c sim, me add lah q eu t ensino:
gabriel.olp@hotmail.com
flw's

Flá Romani... disse...

Muito boa a história, pena que eu li a parte 2 sem ter lido a 1 hauhauahuah, vou ler a 1 agora. Terá continuação ???????

Anônimo disse...

Hugo, Hugo... assim nao e possivel. Vc nos deixa curiosos a cada dia. Ler o seu blog pode se tornar viciante.
Abrcs

http://acordesdeumavida.blogspot.com/

Cativa Google disse...

legal e ao mesmo tempo entranho!
agora vou ler a primeira parte.

Johnny disse...

é meu sim cara! escrevi ontem de madrugada.. hahah!
bá, demais tu ter gostado.. fico lisongeado com o comentário!

cara, gosto de ficção.. mas é muito grande seu texto.. vou fazer assim, vou salvar aqui.. daí eu leio outra hora, e depois comento aqui o que achei.
porque me parece ser bem bacana teus textos!
:)
abraço!

Wagner Nogueira disse...

Exatamente Hugo. Meu principal motivo em escrever é mostrar o que apenas alguem com sensibilidade pode observar no meio do que é aparentemente normal.
Seus textos são reflexo deste mesmo motivo em escrever.